Será que somos um povo de casa pequena?

Hoje foi um dia daqueles.

Começamos a planejar a obra na mini-casa que temos no quintal. É um projeto ousado para dizer o mínimo. Nos últimos dias tenho feito vários desenhos e nenhum deles tinha ficado perfeito. A obra tem que ter duas características que as obras geralmente não têm: ela tem que ser barata e tem que ser rápida. Sem falar que não temos arquiteto ou construtor. Temos um Ari que é um faz tudo. Eu que posso fazer algumas coisas e meus pais que não tem mais idade pra carregar peso (Meu pai vai fazer 70 anos esse ano, e minha mãe terá 65).

Decidimos também não usar nenhum material desnecessário, e aproveitar os rios de coisas que já temos. Essa não é a nossa primeira obra. E depois de tantas obras, não temos assim tanto dinheiro.

Moro com os meus pais, Graça e Antonio, numa enorme casa que foi construida entre 1995-1998 para ter 7 quartos. Cada um de nós, eu e meus irmãos, teríamos os nossos próprios quartos, e nossos pais também. No projeto original, teríamos 3 ateliers para produzir as nossas obras  – minha mãe é uma artesã de mão cheia – e os nossos livros – já que meu pai é escritor e nós, eu e meus irmãos, aprendemos a editar livros em casa.

Os anos passaram e fizemos algumas modificações na residência, imaginando que poderíamos alugar os quartos como pequenos apartamentos, e por algum tempo isso deu certo. O problema é que ficávamos longe da nossa propriedade e pagávamos aluguel, ou seja, quase todo o dinheiro que fazíamos da nossa casa, era usado para pagar aluguel e as contas da própria casa – sem falar que sempre tínhamos que fazer obras na casa porque os inquilinos nem sempre cuidavam dela como gostaríamos.

Quando viajei com minha prima pra visitar meu irmão, há três anos atrás, me hospedei pela primeira vez em um albergue. Desde então, venho conversando sobre a possibilidade de transformar a nossa casa em um. Há cerca de um ano, meu pai encarou o projeto de fazer um grande investimento em mobília e restauração da casa, pra transformá-la em um albergue.

Assim nasceu o Leal Companheiro (www.lealcompanheiro.com) e parte da casa já funciona como albergue. Nós três, entretanto, ainda ocupamos três dos quartos da propriedade, meu irmão mais velho e o mais novo não moram conosco.

Nesses dois primeiros meses como donos de albergue percebemos que precisamos do espaço para oferecer mais leitos, entretanto, não podemos nos mudar, porque não faz sentido pagar aluguel- sem falar que não temos mais empregados, portanto, somos responsáveis pela administração do nosso próprio negócio. Ao mesmo tempo, temos separar as nossas vidas do nosso negócio.

Como fazer pra isso tudo funcionar?

Depois de olhar e olhar a pequena casinha que temos no Quintal, eu resolvi que ia me mudar pra ela. Antes do final desse mês de janeiro. Minha mãe se animou com a ideia e meu pai também e nós três vamos nos mudar pra lá. Hoje, como disse, fomos medir e olhar a casa, para planeja a obra.

Estava pensando nela e resolvendo coisas dos albergue o dia inteiro, e no início da noite saí para tomar café com duas amigas. Uma delas mencionou que eu deveria ver um documentário chamado We the tiny house people – tradução livre pra “nós o povo da mini-casa” um documentário feito por Kirsten Dirksen sobre casas e apartamentos mínimos nos Estados Unidos e na Europa. Abaixo vou anexar o documentário, e estou pedindo autorização da autora, para fazer legendas em português, então, espero que possamos tê-las logo, porque o documentário é em inglês – a maior parte dele, ao menos.

O que o filme e a ideia por trás dele me ensinou foi o seguinte: eu não estava muito longe quando pensei que nós três – eu e os meus pais, pudéssemos nos mudar para nossa casinha no quintal, e agora, estou cada vez mais empolgada com a ideia. Mal posso esperar amanhecer para ver como aplicar novas ideias do filme. Enfim, pra quem não viu, é ótimo.

A gente pode viver com bem menos espaço, com menos coisas. Falando em coisas, vai rolar um enorme bazar antes do fim de tudo. Portanto, em breve posso estar anunciando a mudança para a nova casa, e a venda de muita coisa que não vai caber dentro dela.

Dallas Buyers Club

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Sempre achei que Matthew McConaughey era aquele cara que ia fazer aquele galã em todos os filmes até o fim da carreira e fiquei completamente abismada com a atuação dele em Dallas Buyers Club ou o Clube de compradores Dallas (2014,Jean-Marc Vallée). No filme ele interpreta um cowboy avariado que descobre que tem o vírus HIV e que segundo seu médico, tem 30 dias pra viver.

Diante da doença e da possibilidade iminente de morte Ron Woodroof ( Matthew McConaughey ) se torna um anti-herói homofóbico que busca formas de se tratar com remédios ainda não liberados por uma espécie de órgão que escolhe que drogas podem ser vendidas ao público, uma espécie de Anvisa estadunidense, chamada FDI.

Ao descobrir novas formas de se tratar ele começa a vender as mesmas drogas para outras pessoas também diagnosticadas com HIV e já sofrendo com os sintomas da AIDS. Para isso, ele conta com a ajuda de Rayon (Jared Leto, em uma atuação fantástica) um transsexual, nada mais nada menos,  que o ajuda a encontrar novos membros para um clube que dá aos seus membros remédios sem prescrição médica em troca de uma taxa mensal de $400,00.

A coisa mais fascinante do filme é que ele conta a história do ponto de vista do crescimento do personagem e que aproveita a imagem de galã de Matthew  e porque não dizer de Jared Leto também,   para desconstruí-las em dois distintos retratos: um de homem ignorante, texano, cowboy e outra, um homossexual viciado em drogas,com traços femininos e grande humanidade – duas pessoas morrendo por causa do vírus HIV.

Para isso, os dois atores adotaram a fórmula de Christian Bale no Operário – eles perderam peso e seus rostos ficaram deformados para comunicar o estado de saúde de seus personagens – e a mudança da imagem de cada um deles impressiona por sua brutalidade. Ela retrata  a luta desesperada dos dois para continuar vivos. Não é  e a disputa nos tribunais que carrega o filme, mas sim, a história dos dois seres humanos transformados, em mais de uma maneira, pela doença.

O Clube dos Compradores de Dallas está longe de ser um filme indie ou cult, foi feito para ser celebrado e possivelmente para dar Oscars aos seus distintos atores. Entretanto, é também um filme cativante e bonito, sobre pessoas que no pior momento de suas vidas mostram suas próprias caras.

Há pouco espaço para a atuação de Jennifer Garder como a Dra. Eve Saks, uma médica que se torna o objeto de desejo de Ron e que passa a apoiar a sua luta pra liberar o uso de diferentes drogas para os pacientes HIV positivo. Entretanto, a atuação de Jennifer é contida e esse uso tímido do espaço que lhe é provido, torna boa para o filme, porque ela permite que os dois personagens principais brilhem, funcionando como uma agente compadecida do destino deles.

Enfim, dizem que o filme estreia no final de janeiro por aqui, e como é de praxe, eu não esperei pra ver no cinema, mas se eu puder, vou. Porque O Clube de Compras de Dallas é mainstream, mas é bom.